O
comovente não advém apenas do sublime; é principalmente nas peraltices que se
revela a pureza infantil.
Já
faz parte da nossa mítica familiar certo episódio da época em que meu primo
Nilo não passava de uma pessoinha de poucos anos, sempre de polegar na boca e
indicador no nariz, contando lorotas imaginárias. Sentado de onde estava,
aborrecido com a amolação da minha tia, ele virou-se pra ela e disparou: “Tia Flávia, seu cu tá xumegano, friviano e
brubuiano!”.
Minha
avó, que presenciou a cena, em vez de corrigi-lo, pôs-se a rir; realmente
difícil reprimir a malcriação, quando o xingamento é tão inventivo!
Inventividade,
aliás, é o que não falta na família desse meu primo. A começar pelos nomes dos
irmãos. Nenhuma professora de português me deu exemplo mais feliz do que seja
concisão, do que a minha Tia Marinah, ao escolher o nome dos filhos: Nilo,
Caio, Siro e Isa.
Nomes
curtos, simples e fortes. Não darão trabalho para digitadoras de formulários,
nem serão motivo de chacota em cadastros de órgãos públicos. Eles não serão
incompreendidos ao telefone, tendo de repetir o nome várias vezes, e ouvir em
resposta as versões mais estapafúrdias de pronúncia. (As Hendyes Gracielles da
vida que o digam.)
Apenas
o nome de Isa pode causar alguma confusão. Será Isa o apelido de Isabel,
Isadora, Isaltina, Isolda? Nada disso, Isa é nome mesmo. Se o
nome é curto, apenas 3 letras, o apelido que lhe damos é ainda mais econômico:
I. Só pode ser fruto do que eu chamo de preguiça fonética, umas das 142
modalidades de preguiça que nos afligem.
O
parentesco colateral continua a me render boas memórias de criatividade
gramatical. É meu primo Siro quem protagoniza esta outra, quando era ainda um
pirralho com cara de lagartixa. Estávamos na roça, e ele me pediu pra pegar
algo que estava fora do alcance de sua pequena estatura. Eu também era criança,
e não sei por qual motivo maligno não quis atendê-lo, e simplesmente lhe disse:
“se vira!”. Sei que a malvadeza rendeu bons frutos, porque ele deu um jeito de
conseguir o que queria, e ainda veio todo triunfante me dizer: “SE VIREI!”.
Só
posso dizer que poucos tropeços linguísticos me inspiram tão ternas memórias!
***
PS.: quando Isa e Tia Flávia viram essa postagem, disseram que esqueci de falar de Caio. Realmente eu sou meio esquecida, e ele é meio desaparecido: a combinação resultou em lacuna, evidentemente involuntária.
PS.: quando Isa e Tia Flávia viram essa postagem, disseram que esqueci de falar de Caio. Realmente eu sou meio esquecida, e ele é meio desaparecido: a combinação resultou em lacuna, evidentemente involuntária.
É
claro que ele também tem lugar especial nas minhas memórias de infância. Pelo
menos uma façanha nós aprontamos juntos: “roubar” o carro de Tio Rui para tentar
dirigir nas ruas de Engenheiro Navarro (tudo bem, eu aprontei, ele foi o
cúmplice-mirim).
Mas a melhor é esta: Caio estava sozinho na casa de Vó, e resolveu
ir embora. Antes de sair, porém, ele foi responsável o bastante para não deixar
a casa aberta, à mercê de hipotéticos malfeitores. Trancou a porta e colocou a
chave debaixo de um vaso de flores. Quando chegamos, havia um bilhete na porta
da rua, dizendo: “Vó, tive que sair. Deixei a chave debaixo do vaso de
flores. Cacá”.
Ainda que um “amigo do alheio” tivesse vindo nos surrupiar
naquela tarde, é possível que, lendo o bilhete, desse meia volta e partisse de
mãos abanando, comovido com tamanha inocência juvenil.
***
1° a ler! Esses textos estão ficando bons demais! Parabéns Grá!
ResponderExcluirValeu, I! Você foi mesmo a primeira a ler, e já sabe até o próximo, né...rsrs.
ExcluirBeijos!
Ai que delícia... eu amo ler suas crônicas. Essas da família então...rs Sua memória e suas palavras nos emocionam! Te amamos demais... ♥
ResponderExcluirEsqueceu de cacá... mandei uma msg pelo face! coloca aí1 rs bjos ♥
Anciosa pra ler o próximo!!! ♥
Ei, Tia!!! E aí, se lembrou de Nilo te xingando?..rsrsrs. Você também deve ter rido muito na hora...rsrs.
ExcluirConfesso que eu não me lembro disso, só sei do que vocês contam.
No próximo fim de semana tem o último texto da série...
Também te amo muito!
PS.: Cacá é meio desaparecido, mas também mora no meu coração. Vai ver ele ainda aparece em alguma crônica do futuro, Isa me lembrou de uma vez que "roubamos" o carro de Tio Rui pra dirigir em Navarro...rsrsrsrs.
Beijos!
Foi mesmo... me lembro disso! lembrei de nilo sim, e dei altas risadas... muito legal!
ExcluirBjos Te amo ♥
Tem até parte 2?? Qual o tema do terceiro???
ResponderExcluirEssa do seu primo Caio foi a melhor, muito boa, kkkkkkkkkkkkkkk
Só achei q rolou uma censura das peripécias da autora do texto. Só lembrou dos primos né?? Kd as suas?? Duvido q só roubou um carro, hehehehe... bj
Dalila.
A especialidade dela era "roubar" carros... os de Tio Ruy... kkkkkkkkk teve um acontecido no BNB clube... Lembra Dindinha??? rsrsrs ♥♥♥
ExcluirLembro demais! Roubei o carro e fiquei dando voltas no BNB, só parei quando Tio Rui saiu correndo atrás do carro... rsrsrs
ExcluirFala, coleguinha Dalila! É que eu não me lembro de peripécias de minha infância... Acho que eu ficava mesmo só conversando com meu amigo imaginário...rsrsrs..
ExcluirKKKKKKKKKKKK Foi a melhor, mesmo... mais até que "tia frávia, seu ... ta xumegano, friviano e brubuiano!” kkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirtodas, muito boas... ótimas!!! lembranças lindas e que ficarão marcadas em nossas memórias, não é, Dindinha??? Lalau de carro... rsrs e ainda colocou caio no caminho da perdição... kkkkkkkkkkkkkkkkk
Ai ai... amo tanto! ♥♥♥
O pior desse episódio é que nós nem conseguimos terminar o percurso. Ficamos enganchados em uma esquinha, Tio Rui teve de ir atrás nos salvar (e brigar)...rsrs.
ExcluirBjs!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGente, não é que me lembro de vc contando algumas dessa peripécias? Eu ri demais com a revolta de Nilo, e fiquei muitíssimo encantada como bilhete de Cacá. Essas crônicas vão longe. Já estou ansiosa pra ler a próxima. Parabéns, Grá!!
ResponderExcluirObrigada, Natinha! Com o incentivo que vocês estão me dando, fica ainda mais gostoso escrever!
ExcluirQuer dizer que você já conhecia essas histórias??? Não é pra menos, você praticamente fez parte da família...rsrs
Grande beijo!